Review das canções de Clockwork Angels

08 MAI 2012











O site Music Radar disponibilizou o primeiro review de todas as faixas de Clockwork Angels, o próximo álbum de estúdio do Rush.

Confira a seguir as informações sobre todas as canções, com exceção das já lançadas Caravan, BU2B e Headlong Flight:

Clockwork Angels (7:31)

Stephen Colbert uma vez brincou com o Rush perguntando: "Vocês já fizeram uma música tão épica que no final dela se sentiram influenciados por si mesmos?". Esse poderia ser de fato o caso desse mini clásico, que funciona como uma opera rock independente. É uma responsabilidade muito grande falar dessa canção de uma só vez, mas o que fica são coisas como uma dança abençoada por Peart no chimbau e uma festa ousada de Lifeson à la Townshend. (Poderia ter uma canção uma própria abertura dedicada? Se não, certamente que sim agora). E ainda há a voz de Lee, que nunca soou tão suave e inalterada. Quando as coisas ficam mais pesadas para a banda carregar, Peart esmurra seus toms com uma força quase bestial. Pela marca dos 4:30, o centro das atenções se volta para Lifeson, executando um solo que soa como uma ária. Tudo se assenta em um falso final lúdico, com áudio do tipo Trompe-l'oeil, que se processa em um final arrasador.

The Anarchist (6:52)

Um riff de guitarra vivaz capaz de arrancar os dentes guiando os tempestuosos roqueiros Lee, Lifeson e Peart que caem uns sobre os outros com agilidade calistênica. É interessante como alguns baixistas podem conduzir o centro melódico de uma música sem se sairem como perseguidores do cenário. Sting é um e, à sua maneira, Steve Harris do Iron Maiden é outro. Geddy Lee preenche todo espaço aqui, principalmente no refrão suportado por Lifeson e Peart, que lhe permitem atingir dentro de si mesmo. Os outros caras conseguem destaques também: Peart golpeia nas brechas da mistura e sua abordagem é, na maior parte, uma roda livre e oscilante, golpeando a caixa a tal ponto que soa como tiros. Alex Lifeson gira em um solo delirante e elástico - durante uma grande frase lembra Eric Johnson, cativante, em tom de violino. A canção termina abruptamente, e você provavelmente vai querer olhar duas vezes ao ouvir fragmentos de metal ressoando e caindo, com a jornada continuando em frente.

Carnies (4:52)

Doce e profunda, rude e convidativa - este pilão fantasmagórico é fascinante sobre como tudo parece sem esforço e inexplicavelmente correto. Ela possui provavelmente o riff mais cruel que Lifeson já tocou - ao menos nesse disco - e que se encaixa perfeitamente na massa brutal dos versos. Ao longo de Carnies, Lifeson mantém seu jogo atingindo novos limites. Seu solo é um espiral de padrões furiosos e suaves. Ele traz o presente extravagante de fazer o som perfeito no momento perfeito - soando como floreios, acordes escalonados escavados, vibratos cuspindo fogo - e sua intuição acrescenta à beleza incessante e desconcertante da canção.

Halo Effect (3:14)

Você poderia dizer que uma canção está destinada a se tornar um clássico pela primeira que ouve? Se sim, Halo Effect não faz parte do panteão de todas as melhores canções do Rush, mas chegará bem perto. Ao longo de um deslumbrante desfilar de violões dobrados, Geddy Lee canta ricamente, com temperamento maravilhosamente expressivo. A faixa surge numa sessão vibrante da mansidão do power-trio, mas o quadro geral é acústico, atado por cordas elegantes. "What did I do before there were words?", pergunta Lee, banhado em um brilho deslumbrante de violoncelos que o carrega - e nós tambem - para longe.

Seven Cities Of Gold (6:32)

A guitarra de Lifeson cospe fogo em linha reta - seu primeiro riff é Hendrixiano em espírito - com Lee e Peart correndo atrás desse exercício diabólico, sustentado por teclados urgentes e pelos vocais obscuros de Lee. Seven Cities of Gold contém acenos ao passado do Rush, mas a coisa toda se mostra extremamente viva e vital, com uma variedade deslumbrante de riffs evasivos e entrelaçados que sobem e descem. A seção intermediária é um mar de psicodelia - não superficialmente viajante ou retrô, mas desorientador, o equivalente sonoro ao show de luzes de 2001: Uma Odisséia no Espaço. É psicodélica e, no final, os três integrantes levantam ainda mais poeira.

The Wreckers (5:01)

Uma grande abertura com acordes impetuosos de poderio britânico, evocando coisas como The Who e Kinks, iluminando-se do tipo vencedora. Há tantas coisas boas sobre The Wreckers que é difícil saber por onde começar: a maneira com que Lifeson dedilha sua guitarra flamenca e como Peart captura todos os toques e seus movimentos; como Lee canta com uma voz rouca e melancólica, revelando emoções anteriormente inexploradas; e a maneira alegre com que a banda surfa de peito nas ondas gigantes do som, batendo um contra o outro e agitando seu próprio tipo de corrente. Esse é o tipo de música que envolve o ouvinte em muitos níveis - você gosta dela por soar muito bem, porque está sendo interpretada pelo Rush e por você estar feliz por eles conseguirem apertar os botões certos. Mas, principalmente, pela banda renovar sua fé na idéia de que o rock ainda tem lugares loucos e belos para percorrer.

BU2B2 (1:28)

Não se trata de uma canção real em si, mas um seguimento assombroso contruído sobre violoncelos e violões, com vocais minimalistas de Lee evocando uma reunião gospel ao luar.

Wish Them Well (5:25)

Uma brincadeira em êxtase que começa com uma saída falsa: São aquelas guitarras brancas quentes ou um órgão Hammond dobrado por cima da bateria de Peart? Difícil dizer, mas é uma combinação mágica. Um dos prazeres consistentes de qualquer excelente canção do Rush - basta escolher uma - é levar o espetáculo puro de sua eficiência, a forma quase bizarra que o grupo sempre consegue quando estão juntos. Aqui é Peart, cujo tocar inventivo e febril cria seu próprio tipo de órbita. Quando os outros músicos giram em lugares mais longinquos do espaço (o solo de Lifeson é particularmente cósmico), ele nunca os deixa encalhar. A guitarra de Lifeson assume uma qualidade brilhante pela viagem, uma jam não forçada que se move com a facilidade de uma volta olímpica.

The Garden (6:59)

Um deleite pastoril que vem sobre você como um devaneio. Acústicas graciosas e flutuantes, orquestração de bom gosto, Geddy cantando de forma simples e um estilo natural compõem o alicerce de The Garden. Peart se junta no segundo verso, estabelecendo uma mistura suave que, mesmo quando ele parece estar fazendo muito pouco, seu senso de composição e movimento causa um impacto profundo. Seus padrões são tão naturais que é como se as baquetas voassem de suas mãos tocando por ele. Depois de um mágico interlúdio de piano, Lifeson alcança um solo de guitarra multi-dimensional, do tipo que lembra as epifanias misteriosas de Limelight. Há uma certa qualidade de melancolia em seu fraseado, como se ele estivesse parando brevemente para olhar por trás dos seus ombros. Ao final, ele volta para seus companheiros de banda e os três marcham intrepidamente juntos. Não há floreios vistosos desnecessários ou a construção de um auge "épico" - mas o mais longe que conseguiram se torna evidente: a magia que eles têm moldado e a ressonância de que Clockwork Angels irá permanecer.